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A Revista Gama fez uma matéria muito rica sobre os 29 anos da Lei de Cotas. Achei legal contar um pouco da minha experiência sobre o assunto. Eu
sou cria desses processos inclusivos, tanto na minha inserção no ensino básico,
lá em 1996, quanto no meu inicio no mercado de trabalho, em 2007.
Minha visão sobre o tema era muito romantizada, afinal, eu cheguei aonde estou graças a essas iniciativas. Apesar da ideia “romântica”, vivenciei situações que não fazia sentido nem nos mais clichês dos contos de fadas. Deixei quieto e acreditei por muito tempo que aquilo tudo fazia parte do sistema. E de fato, tem coisas que fazem mesmo.
Eu me sinto grata pelas Leis de Cotas, mas hoje percebo que a gratidão NÃO me fez ver muitas coisas erradas que estavam ao meu redor, como o capacistismo, por exemplo. Não me fez entender a promoção que nunca tive, não me fez pedir aumento de salário e nem me questionar sobre o real motivo de eu nunca ter me perguntado nada disso.
Às vezes paro para pensar e me pergunto se durante minha jornada no mundo corporativo eu realmente tive as mesmas oportunidades que meus colegas de trabalho ou, se só não fui boa o bastante para crescer. Aquela famosa dúvida de quem é PCD, se sou mérito ou evitei uma multa.
Para aqueles que não precisam de leis para ser inclusos em algo, é difícil entender essa mistura de sentimentos. E leva tempo até para a gente mesmo sacar que existe uma diferença entre obrigação e inclusão e que elas poucas vezes andam juntas. Nenhuma empresa ou escola são boazinhhas de graça.
Por muito tempo eu fui a única PCD nas classes, na faculdade, nos cursos extras e no trabalho. Eu aceitei isso sem qualquer questionamento, até achava legal, pensava que ao me incluir, esses locais estavam em dia com a diversidade. Ledo engano. Agora me pergunto, até quando?
Hoje tenho uma noção mais critica das coisas que vivi e que vivo atualmente, me sinto menos conformada e as consequências disso são raiva, por não ter tido voz ativa no passado, e alivio, por ganhar consciência e tentar ser uma agente de mudança por onde passo.
Apesar das conquistas, falta muito para o sistema ser igualitário, inclusive no modo como a #inclusão é tratada pelas escolas, faculdades e empresas.A contratação de Pessoas com Deficiência com base em lei é fácil, assim como é cômodo construir banheiro grande e rampa na entrada.
O cu$to$o mesmo é investir em capacitação, tecnologias assistivas, treinamentos internos para funcionários e upgrade de carreira com base nas habilidades de cada um. Tirar as pcd da base da pirâmide por mérito próprio é um desafio quando a empresa não tem a visão certa de inclusão
Esse é um depoimento simples sobre minha opinião como cotista. O fato é que infelizmente ainda precisamos desse tipo de ajuda para incluir a grande "minoria" na sociedade e por isso não devemos tratá-las como um favor e nem confundi-las com gratidão. Se as coisas já não funcionam direito com a lei, imagina sem ela.
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