Ser Infame

Capa do livro "Os Infames da História: pobres, escravos e deficientes no Brasil", de Lilia Ferreira Lobo


 

"Os Infames da História: pobres, escravos e deficientes no Brasil", da psicóloga e historiadora Lilia Ferreira Lobo, foi um dos último livros que li em 2020. Sempre que posto sobre alguma leitura, coloco um resumo da história e comentários sobre o que achei. Dessa vez, farei diferente, até porque não foi uma leitura muita fácil para mim. Não é pq tenho hábito de ler, que compreendo tudo que leio, livros acadêmicos, como esse por exemplo, são bem complicadinhos, principalmente para aqueles, que tipo eu, não estão acostumados com o linguajar.

O que quero contar aqui é como descobri esse livro, que por sinal tem a ver com uma descoberta interna, quase um descobrimento de identidade. A gente sabe que o ano foi difícil, mas claro que em escalas diferentes para cada brasileiro, eu como mulher branca com deficiência de classe média, tive o privilégio de trabalhar de casa, e graças a esse privilégio consegui me conectar ainda mais com um assunto que nasceu comigo, mas que nunca tinha parado para pensar nele de uma maneira mais critica e aprofundada. Estou falando da deficiência e de tudo que envolve ela.

Durante a pandemia comecei a acompanhar muitas pessoas do movimento pela luta do direito PCD, acadêmicos, professores, influencers, políticos e anônimos, e isso foi muito importante até para entender que meu ativismo era baseado somente em experiência. Cada luta tem sua história, se você faz parte de um grupo minorizado, é importante saber aonde começa o fio do nó e quem foi os responsáveis por começar a desatar ele. Diferentemente de outras minorias, é um pouco mais difícil para pessoas com deficiência acharem esse histórico na história. Claro que existe, mas tem que cavucar bastante para entender além da superfície.

Ao me aproximar dessa causa e acompanhar debates e estudos sobre ela, me deparei com termos super desconhecidos do meu vocabulário, mas bem presentes na minha vida, como CAPACITISMO, PASSABILIDADE e DISFORIA. Se quiser saber mais sobre eles, me dá um toque que te indico perfis que explicam o que é cada um dentro do grupo das deficiências, sim , até pq esses termos não pertencem a uma minoria só.

Aliás, INTERSECCIONALIDADE foi outra palavra que conheci nesses tempos, e realmente, não tem como defender uma bandeira sem levar em consideração outras. Existem causas e lutas que não podem ser separadas. Apesar das minorias terem pautas distintas, em algum momento, elas se encontram.

Uma das coisas mais importantes que me dei conta é de que as pessoas são plurais, diferentes e que pertencer a um determinado grupo não quer dizer que você pense exatamente como eles, e tudo bem, cada um é feito de vivências únicas, discordar faz parte.

Foi por conta dessa consciência de identidade que descobri o livro "Os Infames da História", a partir de conversas e indicações no Twitter, uma rede que apesar dos haters, dá para achar gente bem engajada. Como já disse, a leitura não foi uma das mais fáceis, mas em suma o livro mostra um panorama da história do Brasil, de seu descobrimento à República, contando como surgiu  o que conhecemos por deficiência, no âmbito institucional, e qual é relação dela com os escravos e pobres, que foram e são considerados anormais e infames, infelizmente até hoje.

Enquanto lia, lembrei de um professor de geografia que tive na escola. Ele falava que um dos xingamentos mais pesados que poderíamos falar ou receber eram bobo e idiota. Sempre achei estranho esse comentário dele, mas depois de ler esse livro, entendi o motivo. As palavras têm história também, basta a gente querer saber.

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