Em 2014, o humorista Danilo Gentili completava três anos como apresentador de Talk Show. Começou em 2011 no "Agora É Tarde", na Band, e dois anos depois aceitou o convite para assumir a bancada de um programa "100%" dele no SBT, levou sua equipe junto e assim nasceu o "The Noite". Boa audiência para o horário, Danilo, que já era conhecido do público e da justiça também, se consolidou na emissora e no negócio. Lançou série em canal pago e a adaptação de seu primeiro livro, "Como se Tornar o Pior Aluno da Escola",vai sair no cinema ainda este ano (2017).
Como escrevi outras vezes, escolhi Danilo Gentili como meu personagem para um projeto de entrevistas com pessoas influentes que a Elemdia (empresa de Out Of Home, ou conhecida como `telinhas de elevador') estava começando, chamado de `SpeedReading`.
Minha conversa com ele foi feita na sede do SBT durante o intervalo da gravação de seu programa, em um dia que nenhum brasileiro esquecerá, o dia do 7x1. Mesmo nervosa com o jogo, que nem tinha começado, encontrei Gentili preparada para possíveis gracinhas, me enganei. Alto, bem alto, o humorista, desculpe o trocadilho, não brinca em serviço quando se trata de sua profissão. Simpático, Danilo teve acontecimentos em sua vida que passaram longe da graça, acho que por isso ele leva o riso tão a sério.
Qual o limite do humor?
É uma pergunta que sempre
fazem, mas nunca perguntam Qual é o limite do mau humor? O que faz
uma piada, que é uma coisa para causar o riso, virar algo ruim é o mau humor. Acho
que é esse limite que tem que ser questionado. Sempre que o humorista faz uma
piada ele tem o intuito de causar o riso por uma coisa boa, causar o bem-estar,
fazer a pessoa se sentir bem. O que faz as pessoas se sentirem mal é o mau
humor, que pega essa piada feita para rir e fazem as pessoas se sentirem mal
com aquilo. Se colocarmos na balança o que dá prejuízo é o mau humor e não o
humor.
Claro. Tanto é que os
shows que eles fazem são só para pessoas bem –humoradas, vai quem quer.
Eu não posso ficar questionando Qual o limite do pagode, por exemplo, eu não
gosto de pagode mas eles continuam fazendo o trabalho deles.
Qual o assunto do seu livro e que perguntas seu novo livro vai tentar
responder?
Meu livro se chama O Guia
Politicamente Incorreto do Humor, da editora Leya, que tem outras publicações
do mesmo gênero e por isso dei a ideia de fazer um guia do humor. O
intuito do livro é fazer uma leitura de como o politicamente incorreto, que
é a moral que rege hoje em dia na mídia, fiscaliza o humor através de seus
valores.
Você acha que o humor conseguiu o espaço que merece no Brasil?
Sim, assim como a música,
o teatro e as formas de arte. O humor tem esse espaço desde os primórdios porque
ele tenta causar o riso, que é uma coisa biológica. Desde que o homem entende
quem ele é, o humor já tem um lugar em qualquer sociedade, sempre existiu
e sempre vai existir
Você
usa política na maioria das suas piadas, em que momento se interessou por esse
tema ?
Desde o momento que eu vi
que a política é a coisa que o Estado, Governo e as pessoas envolvidas em geral
me enchem o saco, me interessa (risos). Desde que eu entendi que Governo/Estado
é o problema e não é solução me interessa.
Por que
a política nacional é um tema tão abordado pelos humoristas?
Na verdade os
humoristas brasileiros falam pouco de política e quando falam é de uma forma
muito genérica. Aqui ninguém cita nome, é sempre “o político é ladrão, o
governo é ruim”. Tá, mas que político é ladrão?, porque ele é ladrão? No Brasil
essa área é pouco desenvolvida ainda. Mas é do brasileiro mesmo que não quer
citar nomes para nunca se comprometer, essa cultura de ficar bem com todo
mundo, ficar bem até com o próprio carrasco. Por isso que essa fiscalização
do politicamente correto aflige tanto os artistas.
Como o humor pode contribuir para a política (se é que pode)?
Eu acredito que o humor
tem que ser uma válvula de escape, essa é a principal contribuição e função
dele. Uma coisa pesada para você, seja um problema pessoal, físico, político,
opressão do governo ou psicológico, se sabe encarar isso usando o humor, você
tem uma válvula de escape para não te afligir tanto. A grande colaboração
que o humor trás é dando uma válvula de escape para os problemas pesados das
pessoas. Agora se o humor questiona ou faz questionar, eu acho que ficam
jogando ao humorista uma coisa que ele não é professor, não é filósofo, ele
está ai para fazer as pessoas rirem.
Você
acredita que exista humor inteligente como dizem, CQC por exemplo?
Todo humor é inteligente
porque o homem é o único animal que ri, então todo humor envolve raciocínio e o
homem depende da razão para dar risada. Por mais que uma piada seja infantil ou
simplista, o raciocínio vai acionar essa ação de rir. É impossível fazer
humor sem envolver a inteligência.
Nunca. O comediante que
se ofende com piada não está preparado para se comediante. Ele dever ser o
primeiro alvo de suas piadas e o cara que menos se incomoda com elas.
Qual tema de piada
nunca perde a graça? E que tipo de piada você já cansou?
A piada perde a graça na
segunda vez que você ouve ela e esse é o problema. Diferente dos cantores que
podem repetir as músicas, os comediantes não podem conter a mesma piada todo
dia, essa é a grande dificuldade. Tudo que você cria hoje, amanhã já perdeu
a graça. A piada envolve uma surpresa, se você conhece a surpresa não vai
conseguir rir da segunda vez.
Tem
diferença entre piada e humor?
Tem, o humor abrange
várias coisa, desde quadrinhos a peças de teatros. A piada é uma dessas
vertentes do humor.
É uma série que vai
cobrir os bastidores de um gabinete de um deputado federal que é confundido com
uma pessoa honesta e vê a chance de concorrer a presidente. A série
vai abranger um pouco dos bastidores de como é feita a política nacional e do
próprio politicamente correto, que é a agenda política que todo mundo tenta
enfiar goela abaixo.
Não, é um político modelo
brasileiro.
O que
é politicamente correto pra você? Por que acha que deve ser combatido?
Politicamente correto deve ser combatido porque ele
é nitidamente, historicamente uma agenda política específica que estão tentando
colocar em voga aqui. Qualquer agenda política deve ser parada. Eu não
quero fazer parte dela, quero seguir minha vida em paz e quando vejo que tem
uma agenda política com o nome de politicamente correto nada mais é que um
marxismo cultural com nome politicamente correto. Quando eu vejo que querem que
isso reja as regras como as coisas são, considero uma invasão grande, ninguém
me perguntou se quero ser regido dessa forma
O que
acha dos talk shows brasileiros, comparados aos de fora (Jimmy Fallon, Stephen
Colbert, Jon Oliver etc)?
A grande vantagem que os
EUA, que além dessa ideologia de liberdade por conta da quinta emenda e dos
bussines bem desenvolvidos, eles são donos da própria carreira. Aqui uma
emissora é dona da carreira do artista e acaba dificultando um pouco. Se as
emissoras entendesse que quanto mais livre o artista é, será melhor para ele e
para emissora, ficaria mais fácil.
Tem
diferença entre o humor feito em outros países com os daqui?
Não, o humor é humor em
qualquer lugar. A diferença é contextual, a cultura é uma então se ri de certas
coisas. O cotidiano de lá é diferente.
O
que acha do programa CQC hoje em dia?
Eu nunca mais assisti
desde que saí de lá. Meu programa passa na mesma hora que o CQC e eu fico vendo
o meu. Mas eu guardo muitas coisas boas e com carinho.
Quem
te inspira no humor e por quê?
Tem comediantes que eu
gosto, mas não costumo me inspirar muito porque senão cometo erros que já vi
muitas colegas cometerem de tentar imitar a pessoa. O humor quanto mais
autêntico e verdadeiro for mais chance de ser engraçado ele tem. Eu gosto
do Chris Rock e Steve Carell, que é mais que um comediante, é um ator de
comédia.
Pois é, se ele tentou foi
um erro. Na verdade eu criei o programa, é muito difícil pegar algo feito por
outra pessoa e tentar fazer diferente, é uma armadilha muito grande. Eu
jamais aceitaria fazer um programa que eu não tenha criado por causa
disso. Já me ofereceram e eu rejeitei porque acho que não teria nada haver
comigo, eu não cairia nessa armadilha.
Comediante tem que estar
sempre disposto a ouvir e contar piada, como comediante ele tem que ser o cara
que mais entende o que é uma piada. Na verdade, os dias que não está tão bem
são os dias que as piadas caem melhor, pelo menos para mim. São os dias que
mais preciso delas.
Nos dois e talvez em
outro lugares que não conhecemos ainda. Há 20 anos ninguém sabia que iria
existir um canal chamado YouTube.
Você
gosta do Porta dos Fundos?
Gosto bastante. Gosto
também de como eles transformaram o trabalho deles em uma marca, gosto desse
tipo de coisa.
Como a
redes social ajuda no seu programa?
Eu uso as redes para ver
o programa junto com as pessoas que estão assistindo, as vezes para fazer
comentários. Eu uso como uma pessoa normal.
Eu gosto muito de animal,
tento resgatar sempre que vejo algum em situação de risco e tento ajudar. Eu
moro em apartamento e levo tudo para casa da minha mãe.
Qual
o diferencial do The Noite? Que liberdade você tem hoje que não tinha antes
Agora todo o controle do
programa passa por mim e pela minha equipe, então fazemos exatamente tudo que a
gente quer. Desde o cenário até a cor da caneca, passando pelo conteúdo,
pelas entrevistas é 100% nosso. Não temos um fiscal, um cara lá em cima
falando que não pode. Antes era um pouco mais regulado.
Tem algum quadro do programa que você goste mais, ou tenha um carinho especial?
O The Leite Show é o que
eu mais gosto, era um dos que eu queria ter feito desde o Agora é Tarde, mas
por algum motivo não deixaram fazer. Aqui eu faço e é a coisa que eu mais gosto.
Enterramos a pessoa
errada
Se
fosse um super- herói ou pudesse ter um superpoder, quem/qual seria e
pq?
Eu queria ter o poder de combater
a burrice, porque a burrice é o maior poder do mundo e não é a ignorância, é a
burrice mesmo.
Qual
sua característica como empreendedor e apresentador?
Eu sou insistente no que
eu gosto. Se gosto de alguma coisa, eu me empenho para fazer da melhor forma
possível.
Qual
sua reflexão sobre os três anos de talk show?
Não parece que são três
anos para nós que trabalhamos aqui e isso é um bom sinal, há três anos gente se
encontra para trabalhar e está indo tudo bem, ninguém quer parar agora,
queremos mais dez anos. Minha maior reflexão é que os bastidores é a melhor
forma de funcionar qualquer coisa, se está tudo bem no bastidor, tudo dá
certo.
Quais
são seu planos?
Meus planos são lançar a
série quando começar horário político, o livro que sairá em outubro e o filme
Como se tornar o pior aluno da escola que está em fase de captação de recurso
ainda.
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