Eu, eu mesma e ....


Eu sempre fui uma menina fascinada por histórias, desde de pequena gosto de ler livros e principalmente assistir filmes.Lembro que adorava a sensação de estar no meio da locadora com meus pais tentando escolher um enredo, um título ou uma capa diferente. Eu nunca pensei em trabalhar com cinema, o que eu gostava mesmo era de sentir outras emoções, conhecer outra coisas, e por essa razão comecei  a escrever sobre meus sentimentos e minhas observações em um diário. A minha paixão pela sétima arte e pelos livros influenciaram na minha escolha pelo jornalismo, aguçaram minha curiosidade de descobrir mais sobre as pessoas, suas vidas, suas paixões  e principalmente suas dificuldades. Minha mãe trabalhava em hospital e muitas vezes tinha que me levar com ela, foi nesse cenário que eu exercia o papel de Forrest Gump ,só que ao invés de contar minha história eu ouvia a história de estranhos. 
Minha revista favorita era a Capricho, eu era tão fanática que  virei até colecionadora. Tentei entrar várias vezes para a “Galera Capricho” mas nunca deu certo,então  aos dez anos de idade tracei uma meta de trabalhar nela um dia. Apesar de feliz, minha vida nunca foi muito fácil. 
Nasci com uma deficiência fisíca e tudo ao meu redor teve que ser adaptado, inclusive o que eu mais gostava de fazer; escrever. Eu não sei direito se nasci destra ou canhota, eu sempre usei a mão esquerda  para tudo,já que minha mão direita é debilitada. Só sabia escrever de letra de forma e quase ninguém entendia o que eu escrevia, nem eu mesma.  
Uma das fisioterapeutas me  ajudava com a caligrafia enquanto na escola eu descobria que quase não tinha carteira para canhoto e que minha folha de prova tinha que ser tamanho A3 porque minha letra não cabia nos espaços da resposta. Nessa época a inclusão social ainda era um tabu, se eu já me sentia diferente sendo canhota imagine sendo a primeira pessoa com deficiência da escola. 
Eu não era como as outras meninas, enquanto minhas amigas faziam Ballet eu estava na sessão de fisioterapia da AACD, passava mais tempo lá do que na minha casa. É estranho para uma criança lidar com dois mundos tão distintos, não tinha opção e tive que me acostumar.
 Estudei oito anos em uma escola construtivista chamada Cooperativa, apesar de todos meus problemas sempre fui motivada pelos professores a nunca desistir.Esse colégio mudou e marcou minha vida, me ensinou o valor das amizades e a lidar com a minha própria dificuldade.
 Os professores diziam que eu escrevia bem e foi depois de um texto que fiz sobre a AIDS para o jornal experimental da escola, que tive a certeza. 
Meu pai ficou doente e morreu quando eu tinha 11 anos,transformei minha dor em palavras e participei de um concurso de redação realizado pelos Correios.  O tema era “saudade” e ganhei em terceiro lugar do estado de São Paulo .Em 2007 entrei para o curso de jornalismo na Universidade Paulista e arranjei meu primeiro emprego e para poder pagar meu estudo. Depois trabalhei durante três anos como assistente de redação da Revista Monet, na Editora Globo. Foi meu primeiro contato com o jornalismo e com todo o processo editorial de uma revista, trabalhar na Monet meu deu uma bagagem profissional muito grande e eu sou grata por isso. 
Esse ano (2012) consegui realizar o sonho de estudar fora do Brasil, estou no fim do meu intercâmbio de três meses em Boston, nos EUA. Vim para cá para aperfeiçoar meu inglês e está sendo a maior experiência da minha vida, tenho contato com outras culturas, sou assistente de dois professores de português e participo de alguns grupos da faculdade, como a NUTV (Northeastern University Television). Eu estou com 23 anos e agradeço todos os dias por ter encontrado pessoas maravilhosas no meu caminho até aqui, principalmente minha mãe que sempre esteve do meu lado e nunca me deixou desistir. 

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