Deficientes no Mercado de Trabalho
Tabata Contri tinha 20 anos quando ficou
paraplégica. Ela sofreu um acidente de carro durante uma viagem de réveillon
que fazia com os amigos. Tabata faz parte de um número que cada vez mais ganha
relevância no nosso país. Segundo o censo 2010,
levantamento recente feito pelo Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE), 45,6 milhões de pessoas têm algum tipo de deficiência no
Brasil, esse dado corresponde a quase
23,91% da população brasileira. A história de Tabata poderia acabar com
os sonhos de qualquer garota de sua idade, mas ao invés disso, recomeçou com
ela em uma cadeira de rodas. “ Há 11 anos atrás quando eu sofri o acidente,
trabalhava como gerente de loja em shopping, quando voltei ao mercado, quase quatro
anos depois da lesão, eu voltei a trabalhar como gerente novamente, só que em outro ramo. Eu era a mesma, só que antes
eu estava em pé e agora estou sentada. Tem as limitações da deficiência mas não
tira a nossa capacidade”.conta. Sua recuperação não foi fácil, ela passou por
várias sessões de fisioterapia e teve que reaprender alguns hábitos que a vida
já tinha te ensinado. Mesmo assim a jovem não se rendeu, começou a estudar
teatro e se tornou a primeira atriz
cadeirante a fazer uma novela no Brasil, Água na Boca, da TV Bandeirantes. Tabata tem um currículo grande, além de atriz ela é Técnica
em Medidas de Cadeiras de Rodas, é CO-autora do livro Inclusão - Conceitos,
histórias e talentos das pessoas com deficiência ( Ed. Qualitymark) e é
formada em Marketing, tudo conquistado depois da lesão. Hoje, com 31
anos, ela é uma das consultoras de inclusão da Empresa Talento Incluir,
responsável por aplicar cultura inclusiva para pessoas com deficiência no
ambiente corporativo.“ Aqui trabalhamos com inclusão de profissionais
com deficiência no mercado de trabalho, mas a Talento esta longe de ser uma
agência de empregos. Ela existe desde 2008 e atende empresas de todo o Brasil.
É uma educação corporativa, a gente ensina a empresa em como ela pode se preparar
para receber esses profissionais”. O
trabalho feito pela Talento Incluir é de consultoria, a empresa conhece o cliente que deseja trabalhar com a
inclusão de deficientes, faz o diagnóstico e sugere o que precisa ser adaptado.
A etapa seguinte é feita através de
palestras de conscientização , desenvolvimento de gestores, análise de cargos e
funções,análise de acessibilidade feita por um arquiteto especializado em
desenho universal e a preparação da equipe de seleção. “Quando a empresa abraça
a ideia da inclusão, nós a orientamos. A gente acredita que se a equipe de
recrutamento e seleção do nosso cliente souber como fazer, não vai precisar da
gente” enfatiza Contri. Além de prestar serviços para empresas, a Talento
também tem uma equipe que faz recrutamento e seleção de candidatos que procuram
oportunidades de emprego, a partir do perfil de cada um deles é feito uma
filtragem para a escolha da empresa mais preparada. Segundo Tabata, o
recrutamento e seleção não é o forte da Incluir, mas é feito só para empresas
que tem cultura inclusiva. “ Se o cliente nos pedir uma quantidade de
candidatos com deficiência para amanhã, nós não vamos atender. A gente precisa
primeiro saber informações sobre essa empresa, verificar a acessibilidade , o
que ela já fez pela inclusão e se ela já trabalhou a cultura dela para
recebe-los. A partir disso fazemos também a seleção, senão não. A gente preza
em vender a cultura inclusiva”.explica.
Mercado de Trabalho
As pessoas com deficiência estão garantido cada
vez mais seu espaço no mercado de trabalho, no Brasil esse crescimento só foi
possível depois da criação da Lei de Cotas (8213/91), que determina que todas
as empresas devem reservar vagas proporcionais ao seu tamanho para esse
público. O número dessas vagas variam de
2% a 5% dependendo do quadro de funcionários,as empresas que não cumprirem com
a lei podem levar uma multa no valor de R$ 1.434,16 a R$ 1.792,70. De acordo com dados divulgados pelo Ministério
do Trabalho e Emprego (MTE),nos três primeiros meses de 2011, 7.508 pessoas com
algum tipo de deficiência foram inseridas no mercado de trabalho formal.
Tabata, que trabalha com esse nicho diariamente,diz não ser a favor da lei de
cotas mas admite que se não fosse pela criação dela a situação seria pior “Eu
não sou a favor da lei, mas não podemos negar que ela ajudou muito a inclusão
no mercado de trabalho. Para se ter uma ideia, em 2001 haviam 601 pessoas com
deficiência trabalhando no estado inteiro de São Paulo. No final de 2008, mais
de 102 mil estavam dentro desse mesmo mercado, é um resultado enorme.”
ressalta. Apesar desse crescimento, o número de deficientes que ocupam algum
tipo de cargo no mercado não é suficiente. Segundo a Classificação Brasileira
das Ocupações (CBO), existem mais de 2.500 cargos catalogados no país, mas só
1.500 deles são ocupados por pessoas com deficiência. Questionada sobre a
quantidade de deficientes que a Talento já conseguiu inserir no mercado de
trabalho, Contri é direta “ Eu não tenho esse dado, trabalhamos com qualidade e
não com quantidade. Trabalhamos com grandes empresas que já entenderam que não
é só cumprir a cota, mas é cuidar dos profissionais.” De acordo com o Cadastro Geral de Empregados
e Desempregados (CAGED), a ocupação que
mais cresceu em 2011 entre os trabalhadores com deficiência foram Auxiliar de
Escritório, em geral. Na Talento Incluir as vagas mais procuradas por esses
profissionais são nos departamentos administrativos, a consultora revela que
independente das áreas, cada vez mais as empresas aumentam seu nível de exigência
na escolha desses trabalhadores, buscando sempre os mais capacitados para
exercer as funções “ As empresas querem profissionais de todos os níveis porque
dentro dela tem áreas de todos os níveis. Nossos clientes são bem exigentes
quanto a capacitação de seus empregados, há cargos mais baixos, com salários
menores e consequentemente o profissional não será tão bem preparado. Assim
como tem clientes que exigem cargos mais altos e talvez a gente não encontre
ninguém com o nível daquela área. Em contrapartida essa pessoas precisam se
capacitar.” A relação entre mercado de
trabalho e pessoas com deficiência teve muitos avanços desde a criação da lei
de cotas, mas ainda falta para o Brasil chegar no patamar ideal da inclusão.
Tabata Contri ressalta que para tais mudanças acontecerem é preciso mudar o
pensamento das pessoas e dos contratantes, que ainda tem uma ideia mistificada
do assunto “ Algumas empresas começam a trabalhar vagas só para essas pessoas.
Mas não pode continuar assim , pessoa com deficiência não pode ser o PCD dá
área porque não existe esse cargo.” e complementa “ Adquirir uma deficiência
não tira o nosso “know how”. Trabalho trás dignidade para as pessoas, até
porque as contas continuam chegando, você sendo deficiente ou não.”
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