O Divino Metal da Crash Church

Segue um texto que fiz e tentei vender para a revista Época São Paulo QUANDO AINDA TRABALHAVA na Ed Globo. Bom, é claro que não deu certo e eu até entendo o motivo. Relendo a matéria reparei que ela está bem crua, deixei passar algumas informações relevantes e principalmente faltou EMOÇÃO. Deixando minha autocrítica de lado vou contar como cheguei nessa pauta, que como tantas outras aconteceu por uma eventualidade. Então amiguinhos e amiguinhas, se vocês não estiverem interessados em saber sobre os "bastidores da noticia", fiquem a vontade e pulem para a matéria que esta logo a baixo. Na minha opinião uma das partes mais legais das reportagens é como você chega nela ou como ela surge para você, no meu caso teve esses dois fatores. Eu sou moradora do Ipiranga desde de sempre e quando a Crash veio para o bairro aguçou minha curiosidade, toda vez que passava na frente dela e me deparava com aqueles jovens de roupa preta e um som pesado ao fundo ficava querendo saber que tipo de lugar era aquele.
Questionava meus amigos, pesquisava na internet e mesmo assim o senso comum sempre permanecia na minha mente.Entrei nela um dia de supetão,estava rolando um show e resolvi dar uma espiadinha, mesmo assim não entendia o que rolava ali.Mas o que eu não esperava é que no meio de uma fila de supermercado eu iria encontrar um dos participantes mais antigos da igreja, vestido todo de preto, tatuado, cheio de correntes e objetos pontudos. Naquele final de dia mesmo ESSE PERSONAGEM derrubou vários pré conceitos que eu tinha. Resumindo rápido já que falo bastante,descobri que aquele moço (Não vou falar o nome dele pq não sei se ele iria gostar) com mó pinta de mau (Impressão mega errada da minha parte) fazia o bem para muita gente, ele é músico e tatuador profissional além de escrever belas poesias. Foi graças a esse dia que conseguir entender um pouco daquele ambiente dark que botava uma ruga no rosto de um monte de gente, depois disso conseguir participar de um culto de domingo e entrevistar o fundador da Crash. Eu confesso que nãO SOU MUITO CHEGADA EM COISAS RELIGIOSAS, independente de qualquer forma que ela atua. Sou CATÓLICA NÃO praticante mesmo e acredito muito na fé, mas acho válida essas experiências que esse tipo de trabalho proporciona.
Durante o culto fiquei reparando nos olhares de cada pessoa e em cada palavra dita e como já disse antes acho que a fé move montanhas e muda muita coisa dentro da gente.
Eu ainda tenho contato com esse moço que me "apresentou" essa igreja, estou devendo uma visita a eles e principalmente o desenho da minha futura tatuagem hehe. Fico triste por não ter vendido esse peixe direito ........ mas esta ai meu agradecimento a essas pessoas que me ajudaram e a esse lugar que podia ter tido uma visão melhor do que a minha.


Divino Metal

Foi durante um sonho que Antonio Carlos Batista, na época com 23 anos, escutou pela primeira vez os rifes de uma guitarra distorcida. Filho de um pastor e criado com base nos fundamentos da igreja evangélica, Antonio, até então, só tinha proximidade com a música gospel. Mas foi graças aquele som pesado do seu sonho que ele descobriu o que era o Heavy Metal, montou uma banda chamada Antidemon e conseguiu reunir o que parecia quase impossível; o metal com o evangelho. “Eu nunca tive influência musical com bandas desse estilo. Esse sonho foi um chamado que senti e aproveitei do jeito que sabia. Com isso, consigo levar a palavra de Deus para muitas pessoas” conta. Hoje, com 44 anos, ele é conhecido como Pastor Batista e ao lado de sua esposa Juliana formam um dos membros responsáveis da Crash Church de São Paulo, grupo cristão que atrai jovens do movimento underground paulistano. Localizado há um ano no bairro histórico do Ipiranga, zona sudeste, a Crash surgiu em 1994 na garagem de uma oficina mecânica em Osasco. Mas até chegar à sede onde estão agora, eles passaram por outros três espaços em regiões diferentes da cidade. De acordo com Batista, o local era alugado para encontros musicais e estudos bíblicos, mas o valor do aluguel começou a comprometer o orçamento do grupo, que nunca teve seu lugar próprio.O seu surgimento não aconteceu de forma pensada, mas nasceu de uma necessidade, já que a banda Antidemon gerou frutos e conseguiu um “rebanho de seguidores”. Em meados de 1998, o número de punks, tatuados, cabeludos e metaleiros que acompanhavam o trabalho de Batista e da sua banda de Death Metal não parava de crescer, causando desconforto na igreja evangélica “Os jovens se identificavam com a nossa maneira de se vestir e com a mensagem de fé que era passada. Muitos se convertiam, e eu os encaminhava para as igrejas convencionais, inclusive na sede em que frequentava. Como atraiamos um público diferente do que de costume, acabamos não sendo mais bem aceitos ali. Por isso tivemos que criar nosso próprio point.” desabafa Batista.
No Brasil, há mais três sedes da Crash Church lideradas por outros pastores, elas ficam em São Vicente (SP), Taguatinga (DF) e Cuiabá (MT). Há também um grupo em Rosário, que surgiu em 2010 após uma das turnês da Antidemon na Argentina. Apesar de seguirem o mesmo direcionamento religioso, cada uma dessas sedes tem a liberdade para escolher como ministraram os cultos e as atividades. Assim como qualquer outra igreja evangélica, a Crash é registrada e adequada em todas as leis e exigências do nosso país e seu funcionamento interno acontece da mesma forma. Ao todo são 100 membros voluntários batizados e divididos entre pastores, presbíteros, diáconos e oficiais, cada um deles encarregados de uma tarefa “Sempre deixo claro que independente do cargo que ocupamos la dentro, somos iguais a qualquer outro frequentador. Esse tipo de separação é usado para servir as pessoas e não para se ostentar algum poder” complementa ele. A Crash Church sobrevive das doações de quem participa dos eventos para pagar seu aluguel, nos intervalos dos shows e cultos a pequena lanchonete do local é aberta para ajudar com os lucros. Os dízimos também são aceitos e tudo que é arrecado eles utilizam para reformas internas, a última delas, o isolamento acústico, ainda está em andamento. Apesar da dificuldade financeira, as bandas que se apresentam na igreja não cobram, mas é na entrada desses shows que eles conseguem recolher alimentos e itens de higiene pessoal para distribuírem ao pessoal mais carente. Com isso, realizam ações sociais em três albergues da cidade e fazem trabalho de evangelização na praça da Sé.
Mesmo funcionando só aos finais de semana, a Crash Underground Point ou CUP, forma que é chamada pelos frequentadores, atrai jovens de varias partes da capital e até mesmo de outros países “Temos todo tipo de gente, a maioria são pessoas ligadas ao heavy metal em todas as suas vertentes. Vem pessoas do exterior também, são fãs da banda que acompanharam nossa turnê pela Europa.” comenta Batista orgulhoso.
A Crash ainda intimida muitos que não conhecem seu trabalho, principalmente por seu visual dark, que aparenta mais um barzinho gótico que uma igreja. Mas é essa mistura de estilos que acaba atraindo a atenção de quem passa pelo local. E no meio de membros, críticos, seguidores e curiosos tem sempre aquele que independente da sua religião, precisa de uma palavra amiga ou como eles mesmos costumam dizer durante os cultos “Alguém que precisa saciar a fome e a
sede da alma”.

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