Sonho

Ele sabia da resposta, mas mesmo assim resolveu falar. Era um dia normal como todos os outros dias daquela semana, ela entrou e logo numa conversa sem nexo comentou:

- Sonhei que eramos crianças, voltei no tempo sabe, você acha que pode ser um sinal?
ele achou estranho o fato do sonho,pois sabia que era uma fase no qual ela não gostava muito de lembrar.

- Que tipo de sinal?? perguntou ele

- Ahh não sei, você que gosta dessas coisas - respondeu seca.

De fato as verdades por trás dos sonhos atraia o rapaz, ele tinha algumas teorias sobre o assunto mas nada comprovado. Gostava de sonhar acordado, mais do que dormindo, talvez pelo fato de que sonhar com os olhos abertos fosse mais inspirador, fosse como dirigir um filme. Podia pausar e ter controle sobre a sequência das coisas, recomeçar ou apagar tudo e refazer o final. A vida dele não era sim,não mesmo.

Irritada ela chamou sua atenção:

- Hey, morreu ai?? ultimamente ando tendo sonhos estranhos, esse não foi o único.

- Isso é estranho- respondeu ele

Surgiu uma idéia, era como uma oportunidade para declarar o que queria no fundo.Pensou que naquela hora sua vontade de ouvir uma coisa não definitiva diminuice sua carência das pessoas, e não só a dela. Vômitou rapido as palavras para não dar tempo de dessistir.

- Sonhei que nós estavamos juntos.

- Juntos?? mas nos sempre estamos assim - retrucou ela querendo entender

Ele mentiu, ou melhor dizendo omitiu. Omitiu para não ficar um clima ruim entre ele e a amiga, omitiu por não dizer que na verdade sonhava com isso acordado e não induzido por um cansaço súbito.Omitiu por culpar o sonho de algo retraído que queria expulsar a muito tempo de si.

-Não desse jeito- ele consertou

- Hummmm.... Sabem o que dizem??

- Sobre o que?? perguntou ele

- Dizem que quando contamos nossos sonhos ele não acontece mais.

- Mais isso ocorre com os pesadelos- corrigiu ele

- Opss..- riu a moça

- Você acredita em tudo que dizem? cutocou ele

- Não, queria que meus sonhos fossem reais e contar para todos que eles viraram realidade.

- Queria isso também- ele concordou

Silêncio

- Ahh mas de uma coisa eu tenho certeza - disse ela

- Do quê? ele perguntou curioso

- Nós não vamos ficar juntos nunca, não mesmo.

Silêncio novamente

Não era uma resposta esperada, mas ele sabia como ela era, sabia da frieza e ironia das palavras. Foi um baque tão forte que nem ele mesmo esperava, não parecia nada com as conversas que tinha durante a noite, não tinha nem sequer uma pontinha do que sonhava. Chorou e Chorou, mas no fundo não entendeu o por quê, não era apaixonado por ela, só tinha sonhos, pode ser que isso acontecia pelos anos de amizade construidas ou pela carência eterna que tinha. Então ele mentiu:

- É claro que não, sonhos são sonhos, é claro que não.

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