Você já se reconheceu em um livro?

 

Em uma época de terraplanistas, anti-vacinas e adoradores do “inclusivismo”, resolvi respirar um pouco e entender melhor sobre pessoas com deficiência. Foi assim que conheci o Victor Di Marco um dos primeiros influencers que tive um contato mais profundo sobre o tema. O Victor tem um livro bem didático chamado "Capacitismo - O Mito da Capacidade", que inclusive está com desconto na Amazon. 

Durante a leitura me peguei chorando e rindo, com uma sensação incomum de reconhecimento e isso me fez pensar que poucas vezes na vida me senti representada, tanto nos livros, como nas artes. Quando fazemos parte de um grupo sub-representado, qualquer semelhança que encontramos com nossa realidade é um acalento, o que só mostra como a diversidade ainda é distante. O mais perto que tive disso foi quando li “Feliz Ano Velho”, do Marcelo Rubens Paiva, no ensino fundamental. Lembro que a sensação foi de felicidade, de não me sentir sozinha no mundo. Ainda mais que o Marcelo conseguiu juntar dois assuntos que o povo não consegue entender de jeito nenhum, sexo e PCD. E olha que privilégio o meu, a maioria das pessoas só tem contato com uma literatura ou personagem representativo depois de adultas. 

O que me aproxima ainda mais da história do Victor é que assim como eu, ele também nasceu de um “erro” médico e assim como eu, tem que lidar com um corpo que treme, um corpo não reconhecido. Digo nasceu de propósito mesmo. Tem um trecho do livro que basicamente resumiu tudo o que passei, e cara, foi difícil de ler: “Eu sempre soube que era diferente, as pessoas não nos deixam esquecer. Os olhares incomodados do meu corpo que treme quando é para estar parado e para quando tem que se mover”

No último ano, me dediquei a buscar mais sobre a minha história perdida e no caminho encontrei histórias que facilmente seriam minhas também.  É muito bom saber que nesse mundão tem gente como a gente. Eu ainda sigo nessa jornada de autoconhecimento, tentando não me sentir uma “intrusa” no meu próprio corpo. E sabendo que só por existir, meu corpo é um ato de resistência, um ato político.


 

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