Novo no pedaço: Uma entrevista com Selton Mello, diretor de Feliz Natal

Por Giovanna Gomes

Depois do sucesso dos recentes Meu Nome não é Johnny e Os Desafinados, Selton Mello dá um tempo em seus compromissos de ator e ataca de diretor parar encerrar 2008 com chave de ouro. Feliz Natal estréia nessa sexta-feira, dia 21, nos cinemas de todo Brasil e conta a história de Caio (Leonardo Medeiros), dono de um ferro velho que na noite de Natal volta para a casa de sua família e acaba se defrontando com dramas de seu passado. O filme - que ainda traz no elenco Darlene Glória, Graziella Moretto, Paulo Guarnieri e Lúcio Mauro – não é a primeira experiência de Selton como diretor, afinal comandou durante quatro temporadas o programa Tarja Preta (Canal Brasil) e também é autor do curta Quando o Tempo Cair. Desde sua estréia no Festival de Paulínia, o longa ganhou três prêmios, incluindo o de Melhor Diretor.

Também na sexta será exibido Diário de Bordo (Multishow, 22h15), um making of muito pessoal de Feliz Natal. Poucos depois, no dia 24, Selton Mello volta a abalar a programação da TV com a estréia do genial O Cheiro do Ralo (Canal Brasil, 22h).

A MONET conversou por e-mail com Selton Mello, em uma pausa nas filmagens de Brazuca (sobre o assassinato do brasileiro Jean Charles de Menezes pela polícia de Londres), para descobrir mais sobre sua nova experiência por trás da câmeras.

Natal é um tema emblemático, principalmente em filmes de fim de ano. Porque você usou essa data como pano de fundo dramático no seu primeiro longa?

Eu sempre achei Natal um tanto melancólico. E em um desses anos caiu à ficha e pensei que seria um pano de fundo perfeito para um filme, já que todos estão com os sentimentos à flor da pele. Parti dessa sensação e escrevi uma ficção, uma história de um cara que volta numa noite de Natal e tem de rever o passado, sua família, seus amigos, seus fantasmas. E todo o filme se equilibra em uma corda bastante bamba.

Você disse que acha o Natal muito melancólico. O conflito familiar no meio da trama foi inspirado em alguma vivência sua?

Não, as histórias do filme não são as minhas histórias. Não é autobiográfico… Essa família não é a minha. É uma história que pode ser de qualquer um. Mas não foi baseada exatamente em algo que tenha acontecido comigo. Tratei a família como um círculo de amor e alienação.

O elenco mistura duas gerações diferentes de atores do cinema nacional, sendo que dois deles estão fora da mídia há muito tempo. Essa mistura foi intencional?

O mercado gosta da idéia de lançar pessoas. E eu, de relançar. O Paulo Guarnieri, que faz o Theo, irmão do protagonista, fazia muita novela quando era criança. Mas desistiu da profissão, abriu uma pousada em Paraty e estava longe dessa vida há oito anos. Fui atrás dele porque vi no seu olhar a expressão que procurava. Uma tristeza que o personagem precisava. Algo, aliás, bem distante de sua personalidade solar e explosivamente italiana. Mas aqueles olhos foram decisivos. Quanto à Darlene, eu simplesmente criei um papel para ela. No original, o filme não tinha a personagem da mãe. Mas depois de entrevistá-la, no Tarja Preta, eu tinha de tê-la no meu filme. Não conhecia a Darlene e foi uma entrevista maravilhosa, arrebatadora. Ela é incrível, e a presença dela colocou o filme em uma outra dimensão. É o retorno de uma musa absoluta. Darlene Glória volta para incendiar a tela e nos brinda com uma atuação feminina decisiva no cinema brasileiro, independente das qualidades e defeitos de um filme de um diretor estreante. O que ela faz é definitivo e comovente.

Soube que a personagem da atriz Darlene Gloria foi colocada no roteiro um pouco antes da filmagem. Porque ela foi incluída no texto de última hora?

Precisava ter a Darlene no filme, ela é um vulcão. E o mais curioso disso tudo é que foi a última entrevista da temporada do Tarja Preta. A última. Uma sintonia absurda. Cheguei para a equipe e disse que o filme teria uma mãe e que seria a Darlene Glória. Eles ficaram entusiasmados com a possibilidade de trabalhar e conviver com aquela mulher que imortalizou a Geni no belo filme do Jabor Toda Nudez Será Castigada, entre tantos outros. Uma honra para todos os envolvidos. E ainda conto com Leonardo Medeiros, grande amigo e grande ator, que me dá plena segurança para ficar atrás de uma câmera.

Você sentiu algum tipo de dificuldade para produzir Feliz Natal por não atuar como ator do filme?

Feliz Natal é meu primeiro longa. E eu precisava de uma parceria de verdade para essa jornada. Foi muito importante esse trabalho com a Vânia Catani e a Bananeira Filmes. Tinha de experimentar, de errar, de acertar, de me jogar. Se fosse alguém que não me deixasse sentir a vida e o cinema como precisava, que me castrasse, não teria dado certo. Ela me deixou voar. Quando falei que ia participar da montagem, as pessoas acharam que o filme teria o dobro do tempo. Mas acho que o diretor deve participar da montagem. Eu filmo montando, que foi como aprendi com o Guel Arraes. Ou seja, eu estava super focado naquilo, dirigindo, produzindo, montando, além de ter escrito com meu parceiro Marcelo Vindicatto. Então, não cabia atuar. Minha concentração estava toda voltada para essas funções. Em nenhum momento pensei em servir ao filme como ator. Estava entusiasmado demais para viver plenamente essa aventura passional. E falando em montagem, sinceramente o verdadeiro montador de um filme é o espectador.

Você já tem planos futuro como diretor?

Muitos, agora quero dirigir mais. É algo entorpecente. Não tem mais volta. Quero, inclusive, deixar de atuar por um bom tempo e me dedicar somente à direção. Experimentar mais. Ter o meu olhar sobre determinados temas. Expor meu espírito. Como diretor fui inteiro, coisa que nem sempre tenho conseguido como ator porque sei minhas limitações. Comecei muito criança, estava me achando repetitivo como ator. Então que saia de cena por hora para me abastecer para algo maior. Preciso estar inteiro nos trabalhos, senão sofro demais e isso chega até o público. Por respeito a mim e ao público me recolho por hora para, com os olhos brilhando, voltar revigorado.

O Multishow vai exibir o making of de Feliz Natal. Além de ajudar na divulgação, existem outros atrativos para você em um especial como este, sobre os bastidores de uma produção?

Esse making of é diferente dos habituais. Teremos duas versões. Uma peça mais convencional, e essa, que o Multishow vai exibir. Preferi chamar de Diário de Bordo, algo íntimo e poético sobre os bastidores do filme. São impressões de uma filmagem. Algo mais sensorial. Fiquei feliz de poder exibir ao grande público através do Multishow essas pequenas anotações de um marinheiro apaixonado de primeira viagem. Não


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Comentários

Ery Peratza disse…
Aiii, que mara *.*
Amo o Selton desde que eu era pequena, sei lá, eu tinha uns 12, 13 anos qdo eu amei o Auto da compadecida??? menos talvez...
Amava ele e o Raul Cortez que morreu.

A gente tem que dar mais valor a cultura brasileira, pq ela existe e é mto melhor que filmes blockbusters americanos... pfff.
Mas eu amo hahaha